Vamos fazer do Estádio da Luz o que os nossos pais e avós faziam ha uns anos....
quinta-feira, 25 de setembro de 2008
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
13anos de saudade
Jorge Maurício “Gullit”
Foi há treze anos...
Split (Croácia), 14 de Setembro de 1994
O Benfica deslocou-se ao estádio do Hajduk Split para disputar o primeiro desafio do Grupo C da Liga dos Campeões 1994-95. Jogo transmitido na televisão. Estádio cheio, ambiente infernal e adverso para o Benfica. Os adeptos croatas enchiam de moral a equipa com o seu enorme e incessante apoio. Nas bancadas um pequeno grupo de adeptos do Benfica, membros da claque No Name Boys, não mais que duas dezenas.
Entre eles encontrava-se Jorge Maurício, mais conhecido no meio Ultra por “Gullit”, um fervoroso e incondicional adepto do Benfica. Mítico dirigente e um dos líderes da claque encarnada. O “Gullit” viajava para todo o lado. Assistia a todos os jogos com o intuito de apoiar o seu Benfica. Tinha o hábito de escrever, no verso dos bilhetes dos jogos a que assistia, uma "crónica" do jogo, onde relatava os acontecimentos relacionados com as claques antes, durante e depois do jogo. "Sempre presente", era o seu lema. Mais tarde, tornar-se-ia o lema de um grupo inteiro…
O jogo terminou com um empate a zero. Um resultado satisfatório para os encarnados.
Na viagem de regresso para Portugal, a carrinha que transportava alguns dos membros dos NN despista-se numa auto-estrada em Espanha. O acidente foi grave. Morrem três jovens adeptos do Benfica: a Rita, o Tino e… o Jorge Maurício “Gullit”.
A má notícia corre depressa e chega a Portugal. As televisões, as rádios e os jornais noticiam a tragédia que se abateu sobre as famílias dos três jovens. O país desportivo fica de luto. Os membros da claque No Name Boys recebem a arrasadora notícia. Só eles sabem o significado real da perda.
Quando eu soube da notícia fiquei bastante abalado. Conhecia o “Gullit” muito bem, embora não fosse seu amigo pessoal. Toda a gente o conhecia. Com ele convivi e assisti a muitos jogos no topo sul do Estádio da Luz. E também em alguns jogos fora. Lembro-me com particular agrado e saudade as nossas deslocações a Alvalade, Belém, Amadora, Estoril, Jamor e Santo Tirso.
Éramos um grupo unido, em que todos se conheciam, e o “Gullit” estava sempre na linha da frente, incentivando, organizando, vendendo material (fotografias, revistas, cachecóis, etc…) sempre em prol dos NN e do Benfica, com total e incondicional dedicação.
No dia do funeral, inventei uma desculpa no trabalho e desloquei-me ao Estádio da Luz logo pela manhã. Soube através dos jornais que as urnas com os corpos da Rita, do Tino e do “Gullit” iriam dar uma volta ao estádio antes de irem a sepultar no Cemitério de Benfica. Cheguei ao estádio e, sem surpresa, encontrei cerca de 500 elementos dos NN à espera do “Gullit”. À espera do seu líder. Entre eles estavam também alguns elementos de outras claques do país, entre elas a Juve Leo, mostrando respeito e admiração pelo “adversário”, numa hora difícil.
A Sandra, outra lendária dirigente dos NN, tratou de distribuir a todos t-shirts pretas dos NN, para homenagear condignamente o nosso “Gullit”. Ainda hoje guardo a t-shirt e cada vez que olho para ela, lembro-me dele…
As carrinhas carregando os caixões chegaram e a dor e as lágrimas tomaram conta de todos os que ali estavam. Nunca, até àquela data, tinha visto tamanho sinal de pesar no seio dos adeptos benfiquistas. Infelizmente, 10 anos depois, o luto e o pesar foi ainda maior com a morte do nosso jogador Miki Féher. O nosso eterno camisola 29.
O cortejo fúnebre fez uma pausa em frente à porta de entrada da claque no estádio, no topo sul. Foi a última vez que o “Gullit” iria estar na sua curva… De seguida, partiu para a última morada. Ao cemitério compareceram alguns jogadores como o Mozer, o João Pinto e o Veloso. Igualmente presentes membros da Direcção do SLB. Foi uma despedida emocionada e triste, ao som dos nossos cânticos da altura. Lembro-me de me agarrar a chorar a conhecidos e a desconhecidos. Foi muito forte e intenso.
O Jorge Maurício era um líder. Trajava sempre à Ultra e tinha um característico boné na cabeça do seu jogador preferido: Ruud Gullit, o lendário jogador holandês (daí a sua alcunha).
Tenho muitas saudades do tempo em que via o “Gullit” à nossa frente, na bancada, com um tambor na mão ou com um simples cachecol. Sempre a cantar e a puxar pelo Benfica! Era uma inspiração para os Ultras do Benfica e um exemplo a seguir pelos Ultras dos outros clubes. E por isso era respeitado dentro e fora da sua claque.
Em 1992 foi um dos que liderou o movimento de dissidentes dos Diabos Vermelhos que, descontentes com o rumo e a direcção da claque, formaram um outro grupo de apoio ao Benfica, numa bancada diferente, situada no topo sul do estádio. Eu estava lá, em 1992, no primeiro jogo dos “novos” DV, contra a equipa do Sparta de Praga, num jogo para as competições europeias. Foi o início daquilo a que mais tarde foi designado: Rapazes Sem Nome, pois a direcção dos Diabos Vermelhos tinha registado o nome e a marca, não tendo sido possível aos “novos” DV manterem aquele nome.
Assim nasceram os No Name Boys, uma claque à qual eu tive orgulho de pertencer, numa altura em o que futebol e as claques não estavam minadas como agora…
"Há gente que anda aqui a trabalhar, a perder tempo, a privar-se da companhia dos familiares e não só, pessoal dedicado ao que fazemos e aparecem uns palhaços que vêm para aqui acomodar-se e procurar estragar tudo" escreveu um dia numa publicação dos NN. Ele sabia do que falava.
Treze anos de saudade.
Há um episódio que só eu e o “Gullit” vivemos e que, naturalmente, ninguém sabe.
Por altura da formação dos NN, quando se soube que não poderiam adoptar o nome “Diabos Vermelhos”, eu quis ficar com a t-shirt amarela identificativa como membro da direcção dos DV que o “Gullit” ainda possuía. Concordámos que eu lhe compraria a tal t-shirt, por um valor que agora não me recordo exactamente. Como na altura não tinha dinheiro comigo, o “Gullit” disse: “Leva-a e trazes-me o dinheiro no próximo jogo”. O facto é que, por uma razão ou por outra, nunca cheguei a pagar-lhe o que devia...
Estádio da Luz, época 94/95. Homenagem dos NN ao Gullit aproveitando para "picar" os rivais da Juve Leo.
Velhos tempos em que havia amizade e companheirismo na claque. Um estilo diferente do presente… era a chamada “Velha Guarda”. Uma designação que muitos miúdos que hoje frequentam as claques não sabem e não têm a mínima ideia do que é.
Não queria terminar este já longo texto sem dizer: Obrigado, Jorge Maurício “Gullit”. O teu exemplo ficará marcado na memória de todos aqueles que sentem a honra e o orgulho por terem tido a oportunidade de te conhecer.
“SEMPRE PRESENTES”, o nosso lema. O teu lema!
(texto retirado de um blog)
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